Atitudes machistas que precisamos reconhecer e parar de perpetuar
- Raquel Leite
- 7 de abr.
- 3 min de leitura
Alguns comportamentos machistas já se tornaram tão cotidianos que passam despercebidos. Identificá-los é fundamental para desconstruir o machismo estrutural.

Você sabe o que é "mansplaining"? E "bropriating"?
Algumas atitudes e práticas de violência e assédio dirigidas às mulheres são tão comuns que muitas vezes passam despercebidas, ainda são confundidas com piadas ou não são levadas à sério.
Os termos se popularizam em inglês, mas têm significados reais no cotidiano das brasileiras. Veja alguns termos que ilustram essas atitudes:
Bodyshaming: comentários e piadas sobre o corpo das mulheres, promovendo humilhação e insegurança.
Mansplaining: quando homens explicam algo óbvio a mulheres, desmerecendo o conhecimento delas.
Manterrupting: o ato de interromper mulheres constantemente em conversas, especialmente em ambientes profissionais.
Manspreading: o uso excessivo de espaço físico por homens, especialmente em transportes públicos.
Bropriating: quando uma ideia de mulher é apropriada por um homem, que recebe os créditos.
Frases que perpetuam o machismo (e que precisamos abandonar)
Como toda construção cultural que levou anos - séculos! - para se consolidar, mudar os comportamentos que nos levam a ser machistas não é fácil nem uma tarefa de um dia para o outro.
Expressões como “ela está de TPM”, “isso não é trabalho para mulher” ou “ela deve ter conseguido a promoção porque saiu com o chefe” continuam sendo reproduzidas em tom de piada — mas são, na verdade, manifestações de um discurso discriminatório.
A escritora Ruth Manus resume bem a gravidade do problema:
“Não ter voz é uma forma gritante de violência. Para ser antimachista é preciso levar a voz das mulheres a sério.”
O impacto da cultura machista no mercado de trabalho
Um estudo conduzido pela Universidade de Yale, conhecido como o "Efeito Jennifer e John", revelou como o viés de gênero influencia a percepção de competência no ambiente acadêmico e profissional. No experimento, 127 professores de ciências foram convidados a avaliar currículos idênticos de candidatos fictícios para a posição de gerente de laboratório. A única diferença entre os currículos era o nome do candidato: metade apresentava "John" e a outra metade, "Jennifer".
Os resultados mostraram que "John" foi avaliado como mais competente e contratável do que "Jennifer", apesar de ambos possuírem qualificações idênticas. Além disso, os avaliadores sugeriram um salário inicial mais alto para "John" e demonstraram maior disposição em oferecer mentoria a ele. Surpreendentemente, o gênero dos avaliadores não influenciou os resultados; tanto homens quanto mulheres exibiram o mesmo viés inconsciente contra "Jennifer". Este estudo evidencia como estereótipos de gênero podem afetar decisões objetivas, perpetuando desigualdades no ambiente de trabalho.
Além disso, a invisibilização das contribuições femininas na ciência é uma realidade histórica, como o caso de Ada Lovelace, que lançou as bases da programação informática, mas cujo reconhecimento foi ofuscado por Charles Babbage, frequentemente citado como o precursor do computador. Outro exemplo é o de Maria Kirch, que descobriu um cometa em 1702, mas teve seu trabalho atribuído ao marido.
Esses exemplos ressaltam a necessidade urgente de reconhecer e combater atitudes machistas enraizadas em nossa sociedade. Somente ao desafiar esses comportamentos e promover a igualdade de gênero poderemos construir ambientes mais justos e inclusivos para todas e todos.
Fontes:
BBC NEWS BRASIL. Jennifer x John: experimento revela como gênero influencia contratação. 27 mar. 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47714368.
ESPINOSA, Rosa M. Mulheres cientistas escondidas pela História. El País Brasil, 15 nov. 2017. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/11/15/ciencia/1510751564_040327.html.
MANUS, Ruth. Guia prático antimachismo. 1. ed. São Paulo: Planeta, 2021.
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