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Entre viagens e batalhas diárias: o que as mulheres realmente querem (e precisam) no 8 de março?

  • Foto do escritor: Raquel Leite
    Raquel Leite
  • 7 de abr.
  • 3 min de leitura

As brasileiras seguem sonhando em desbravar o mundo. Mas enquanto o desejo de viajar cresce, a realidade ainda é marcada por desigualdades no acesso ao lazer, tempo livre e autonomia. O que nos impede de viver esses sonhos?


Mulheres de diferentes gerações sonham em desbravar o mundo
Mulheres de diferentes gerações sonham em desbravar o mundo
Novas gerações, novos sonhos: viajar é o novo símbolo de liberdade

Uma pesquisa conduzida pela organização Think Olga, divulgada pela DW Brasil/UOL, revelou que o principal sonho das mulheres brasileiras hoje não é mais casar ou ter filhos, mas viajar e explorar o mundo. Segundo os dados, esse desejo é transversal a diferentes faixas etárias e regiões do país.


Esse novo horizonte representa mais que um desejo de conhecer lugares: simboliza autonomia, liberdade e a busca por experiências para além das responsabilidades impostas pela sociedade patriarcal.


Lazer ainda é um direito negado às mulheres

Apesar dos sonhos, a realidade impõe barreiras. De acordo com o artigo científico “Mulheres, trabalho e lazer no Brasil”, publicado na Revista Estudos Feministas (2023), o que as mulheres gostariam de vivenciar em seu tempo livre nem sempre se concretiza. O estudo, que analisou dados da pesquisa Lazer no Brasil, aponta que:


85% das mulheres indicaram os afazeres domésticos como obrigação, contra 43% dos homens.
52% das mulheres entrevistadas não tinham trabalho remunerado, mas mesmo entre as que trabalham fora, o acúmulo de tarefas persiste.
37% delas não conseguem aproveitar o tempo livre por falta de tempo e 35% citam a falta de dinheiro como principal impeditivo​.

Além disso, o estudo evidencia que a maioria das mulheres associa lazer à diversão (77%), mas que, na prática, atividades como cuidar da família, cozinhar ou ir ao mercado ocupam o lugar de momentos de descanso e prazer.


O que (nos) falta para viver o lazer como direito?

A Constituição Federal de 1988 inclui o lazer como um direito social (art. 6º), mas na prática, ele ainda é um privilégio para muitas mulheres. O acúmulo de responsabilidades e a desigualdade de gênero, raça e classe social aprofundam o abismo entre desejo e possibilidade.


Segundo o IBGE (2018), mulheres negras ganham, em média, 44,4% do que ganham os homens brancos. Com menor tempo e renda disponíveis, o lazer se torna um bem inacessível — ainda que o desejo continue existindo.


Além disso, as mulheres trabalham em média três horas a mais por semana que os homens, quando se considera o trabalho remunerado e o não remunerado (afazeres domésticos e cuidado com familiares).


Por que tantas mulheres têm “menos hobbies”?

O debate viralizou recentemente: por que mulheres têm menos hobbies? A resposta, segundo os estudos, não está na falta de interesse, mas sim nas estruturas sociais que não deixam espaço para o tempo livre. A pesquisadora Cristina Carrasco chama atenção para a categoria do “trabalho doméstico” que, para as mulheres, não é uma escolha individual, mas uma função social imposta, muitas vezes invisibilizada e não remunerada.


A ausência de lazer não é apenas um problema individual, mas uma questão de justiça social. Como destaca o artigo da Revista Estudos Feministas, é necessário pensar em políticas públicas intersetoriais e interseccionais que valorizem o tempo de não trabalho, reconheçam o cuidado como trabalho e criem condições para que as mulheres possam, simplesmente, viver.


Viajar, descansar, praticar esportes, pintar, escrever, não fazer nada. Tudo isso faz parte do que mulheres desejam — e merecem — experimentar em suas vidas. Neste 8 de março (e nos outros 364 dias), fica o convite: que ações estamos dispostos a tomar para que o lazer das mulheres deixe de ser um luxo e passe a ser o que é por direito — uma parte essencial da vida?


Fontes:

BONALUME, Cláudia Regina et al. Mulheres, trabalho e lazer no Brasil: entre tempos, gostos, desejos e a fruição de um direito. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 31, n. 2, e83799, 2023.

CARRASCO, Cristina (org.). Mujeres y economía: nuevas perspectivas para viejos y nuevos problemas. Barcelona: Icaria Editorial, Colección Antrazyt, 2006.

DW BRASIL. Mulheres de diferentes gerações sonham em desbravar o mundo. UOL Cultura, 2024.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2018.

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