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Violência de gênero no Brasil: os números que revelam um cenário estrutural

  • Foto do escritor: Raquel Leite
    Raquel Leite
  • 7 de abr.
  • 3 min de leitura

Mais de 21 milhões de mulheres brasileiras sofreram violência em 2024. Para além dos números, o que está em jogo é a perpetuação de um modelo social que ainda silencia, desumaniza e expõe mulheres todos os dias.


O retrato de uma epidemia silenciosa

Em 2024, 37,5% das brasileiras com 16 anos ou mais relataram ter vivenciado ao menos uma situação de violência de gênero. Estamos falando de cerca de 21,4 milhões de mulheres que sofreram algum tipo de agressão física, psicológica, sexual ou patrimonial ao longo do ano — o maior índice já registrado desde o início da série histórica, em 2017​.


Esses dados constam da 5ª edição do relatório Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil, uma pesquisa nacional conduzida pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Em paralelo, o 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública apresenta um panorama alarmante da violência letal: 1.463 feminicídios registrados em 2023, o que equivale a uma mulher assassinada a cada 6 horas, apenas por ser mulher​.


A face dos agressores e o silêncio que os protege

Os números não param por aí. Em 91,8% dos casos de violência, havia testemunhas presentes no momento da agressão​. Em muitos casos, inclusive, os filhos presenciaram os atos violentos. Ainda assim, quase metade das mulheres não procurou ajuda, seja por medo, vergonha ou descrença nas instituições. A violência é majoritariamente cometida por quem está dentro de casa:


40% dos agressores são atuais parceiros (cônjuges, companheiros, namorados).
26,8% são ex-parceiros.
E 20% das vítimas não souberam identificar o autor da violência​.
A violência que não se vê: controle, assédio e agressões simbólicas

Mais do que os registros de agressão física, os dados revelam um aumento significativo de formas "invisíveis" de violência, como o controle coercitivo (monitoramento de celular, restrição de contato com amigos ou familiares) e o assédio.


As mulheres que mais sofrem com essas formas de violência são, em sua maioria, jovens, negras e de baixa renda. A interseccionalidade dos dados reforça que as desigualdades de raça, classe e território intensificam a vulnerabilidade das vítimas.


Por que os números aumentaram?

Segundo os pesquisadores do Fórum, os dados crescentes podem ser explicados por múltiplos fatores:


Aumento da conscientização: mais mulheres reconhecem comportamentos abusivos como violência.
Mudanças legais importantes, como a Lei 14.994/2024, que transformou o feminicídio em tipo penal autônomo, o que facilita sua identificação e julgamento​.
Retrocesso nas políticas públicas, como o desfinanciamento de serviços de acolhimento durante os anos da administração Bolsonaro, que impactou o atendimento às vítimas.
Efeito rebote (backlash): toda conquista feminista gera reações. Ao desafiar estruturas patriarcais, há um aumento da hostilidade contra mulheres que se afirmam com autonomia.

Um alerta estrutural: o machismo mata

A filósofa Silvia Federici defende que a violência de gênero não pode ser dissociada dos processos históricos, econômicos e culturais que sustentam o patriarcado. Ou seja, o machismo é a raiz comum de todas as formas de violência que atingem as mulheres.


Não se trata apenas de dados, mas de vidas. De histórias interrompidas. De futuros que nunca se realizaram. E da urgência de mudanças estruturais que envolvem educação, justiça, saúde e cultura.


Fontes:

Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil – 5ª edição (2025).

Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2024).


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